O cheiro ruim

Cheiro ruim, muito ruim.

O cheiro ruim, foi isso que o acordou.

Abriu os olhos e a paisagem à sua frente estava toda vertical e embaçada. Sentou-se, esfregou os olhos com a manga de seu velho casaco sujo e tentou organizar as idéias sobre a noite anterior, onde lembrava-se apenas de ter bebido feito um cavalo sedento.

Ao tentar levatar-se, sentiu uma dor intensa na perna direita. Havia uma ferida ensanguentada, aparentemente recente em sua perna, pouco acima de seu joelho. Algo que lembrava muito um buraco de bala.

Provavelmente era um buraco de bala.

Levantou-se com um pouco de dificuldade e mancou até uma velha porta de madeira que havia por perto.
Ao abrir a porta, olhou para dentro do lugar e começou a lembrar um pouco mais da noite anterior, onde metera-se no meio de um belo tiroteio naquele Saloon.

No lugar haviam corpos jogados no chão, pedaços de garrafas quebradas, farpas de madeira, sujeira, sangue e quatro pessoas em pé, analisando a cena.

Eram o Xerife Mark Blade, dois de seus oficiais e Norman Hall, o dono do Saloon, que tomou um baita susto ao ver a porta abrir e reconhecer quem a abrira.

- Kevin! - Gritou Norman - Você está vivo, seu desgraçado!
- Mas hein? - Respondeu Kevin, sem entender absolutamente nada.
- Por onde estava? - Perguntou Norman - Você estava aqui durante o tiroteio, não estava?
- Na verdade, não me lembro muito bem - Respondeu Kevin, ainda sem entender muita coisa.
- Também, bebeste feito um camelo. - Afirmou Norman - Você está bem?
- Sim, estou. - Disse Kevin - Apesar da ressaca, do corpo dolorido e da ferida na minha perna.
- Ferida na perna? - Indagou Norman - Venha cá, vamos leva-lo ao médico.
- Não! - Imediatamente interrompeu o Xerife - Não vão a lugar algum até alguém me explicar o que houve aqui. Uma chacina dessas não vai passar em branco. Não enquanto eu usar esta estrela de ouro no peito.

Mark Blade era um Xerife muito correto, honesto e sistemático. Ao seu ver, o culpado por um tiroteio daquele tamanho deve ser encontrado e punido severamente.

- Desculpe Xerife - disse Kevin - eu simplesmente não consigo me lembrar de muita coisa. Só me lembro de ter bebido um pouco a mais do que deveria e acordar agora, do lado de fora do Saloon.

Mark nunca gostou muito de mendigos sujos que vivem largados pela rua. Kevin era um mendigo sujo que vivia largado na rua. Ou seja, Mark nunca gostou muito de Kevin.

- Ninguém sai daqui até me explicarem o que aconteceu. - Afirmou novamente o Xerife.
- Mark - Interrompeu Norman - o desgraçado mal consegue se lembrar do próprio nome, como acha que vai se lembrar da noite anterior? Vamos Kevin. Vamos ao médico.

Norman caminhou até Kevin e o apoiou, ajudando o mendigo a caminhar.

- Estou de olho em você, Kevin. Pode apostar. - Intimidou Mark, assim que passaram pela porta de saida do Saloon.
E assim seguiram para o consultório do Doutor Jonas. Kevin, mancando, apoiado em Norman, que já era meio manco, devido à sua idade avançada.
- Tem certeza que não se lembra de nada sobre ontem? - Perguntou Norman - Nem mesmo o que causou tudo aquilo?
- Tenho, claro. - Respondeu Kevin - E você? Se lembra de algo?
- Eu vi o começo de tudo. - Falou Norman - E quem começou tudo foi você. Logo após alguns rapazes citarem o nome de uma mulher.

Kevin imediatamente parou de andar, arregalou os olhos e, como se um relâmpago cortasse a sua mente, lembrou-se de tudo que havia acontecido na noite passada.

A noite, a discussão, o tiroteio e até mesmo o nome.

Um nome.

Thelma Romero.